quarta-feira, 11 de abril de 2012

[em cima do muro]

(...)
- Estou perfeitamente bem por conta própria. Estar sozinho não significa sentir-se solitário.

- Você não pode se desviar disso pra sempre! Apaixonar-se faz parte da condição humana. Sem isso, você vive só pela metade. Todos precisam de alguém como parceiro, é uma necessidade humana básica.


- Não é uma necessidade. É um desejo! E o que eu desejo, nesse momento, mais do que alguém pra disputar quem gosta mais de quem, é ausência de dor. Apaixonar-se deixa a pessoa aberta, e relacionamentos só trazem sofrimentos.


- Relacionamentos não significam apenas sofrimentos.


- Quer dizer então que relacionamentos não significam sofrimento? Veja o quanto está sofrendo por causa daquele bundão.


- Eu não estou sofrendo...


- Pois, olhe: se estar feliz é assim, então estou muito melhor do meu jeito.
(...)

[naquele momento em que eu não sei a quem dar razão e acabo concordando com as duas partes.]

PS: texto da Marian Keyes

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sobre Pedrinho

Foi surpreendente o jeito como as coisas aconteceram.
Aquele amigo que conversava comigo há alguns anos pela internet, de repente, tinha se materializado ali, na minha frente.
Numa noite agradável, eu, super tenso, percebi que toda a admiração que já tinha por ele, só se fazia aumentar a cada palavra finalmente dita.
(como é que pode ser tão criativo, autoconfiante, um cara cortês? Pedrinho parece comigo, mas bem resolvido com sua nudez)
A verdade é que, numa época, eu me vi balançado por Pedrinho. Percebi que ele era bem o que eu queria pra mim, mas preferi colocar a culpa na carência e continuar acreditando que é melhor não misturar “amor” e “amizade”.
Mas agora ele estava ali. E eu, precisava me controlar. Sempre achei que ele era demais pra mim e que sua vida nunca teria um espaço pra mim. (Sim, meu complexo de inferioridade se torna ainda mais complexo perto dele!)
Talvez eu não o conhecesse tão bem assim, por achar que ele só se ligaria a uma pessoa com uma aparência física “compatível” com a dele. Me enganei por pensar assim. Ele também é muito mais que isso.
E ele me beijou. Por mais que eu quisesse, eu não esperava o beijo. Tanto que me esforcei pra dizer alguma coisa, mas, o máximo que consegui foi sussurrar algo como “que maldade” enquanto a gente se beijava.
Era tudo muito surreal.
Não vou conseguir descrever aqui todas as suas qualidades, que vão além de toda a sua beleza (e, olha, não é pouca!). Tudo o que eu disse aqui, vai parecer uma simples declaração sem muito embasamento. “Coisa de uma pessoa apaixonada”, você, certamente, diria.
Assim ficamos por quatro dias. Quatro noites, na verdade. Eu tentava me concentrar no trabalho durante o dia mas, na verdade, só me via com borboletas no estômago, sorrindo sozinho e brigando com o relógio pra o dia poder passar logo e eu me encontrar com ele à noite.
Nos vimos todos os dias.
Os beijos não foram muitos, mas nem precisava! Ele estava comigo. Comigo, de verdade! Ele se mostrava atencioso comigo. Me olhava fixamente com aqueles olhos azuis e, de vez em quando, me dava uma piscadela e um sorriso meio de lado.
Estar com ele me fez ver que não preciso acreditar que qualquer filho da puta que me aparecer, é o melhor que vou conseguir. No fim das contas, acho que mereço um cara legal de verdade. Independente do tempo que isso possa levar.
Quando ele foi embora, encontrei em um amigo a definição perfeita para o que eu sentia: “uma saudade gostosa, com um aperto estranho”. É exatamente isso.
Pedrinho me fez bem. Muito bem! Minha admiração por ele só aumentou. Não sei se um dia ele vai ler isso, mas só quero que não fique parecendo uma “declaração de amor”. Na verdade, é uma homenagem, um agradecimento a um grande amigo, um grande homem, que agora, mais do que nunca, faz parte da minha vida.

Pedro, essa cantiga não fala de amor, mas....


sábado, 9 de julho de 2011

[sic]


“Eu não gosto de gordo porque acho que é deslecho [sic]”

Depois de uma conversa arrastada pelo MSN, repleta de erros de português (daqueles que chegaram a me constranger por escrever certo!), eu não resisti.

“Discordo de você, visto que, sou uma pessoa que se preocupa em estar sempre limpa. Unhas cortadas. Cabelos bem aparados. Roupas limpas. Perfume. Não tenho piolho. Escovo meus dentes – no mínimo – três vezes ao dia. Troco as minhas meias e cueca todos os dias. Isso não é desleixo. Aliás, que fique bem claro, desleixo se escreve com X. Jeito é com J. E “agente” e “a gente” não são a mesma coisa, ta?. Isso sim é desleixo. Não saber escrever aos... quanto? 22 anos, né? Ser gordo é uma coisa. Desleixo é outra totalmente diferente...”

Foi a última conversa.

E a véspera de OUTRA dieta.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Sobre grandes amigos

Tenho certeza de que seríamos grandes amigos.

A timidez do início da amizade daria espaço a uma grande cumplicidade. Em seu apartamento, tomaríamos cerveja com amendoim japonês. Sua mãe, após algum tempo, seria chamada de “tia”, como fazem os grandes amigos de filhos adolescentes.

Ela entenderia nossa relação. Sem muitas perguntas, nem insinuações. Eu era, afinal, uma amizade que ela deveria valorizar. Ora, é muito bom que os filhos tenham bons amigos.

Deitados na cama dele, poderíamos ouvir música, ver alguns filmes piratas e vários shows. Aquele da Amy Winehouse, o meu preferido, foi comprado por ele numa loja de departamentos em Londres. Sim, ele conheceu Londres. Também conheceu Amsterdã e, de lá, viriam suas melhores histórias. Histórias que sempre gostaria de ouvir, sobre maconha e bicicletas.

Sua pele clara, seus olhos expressivos, seu cabelo castanho, quase loiro. Era, sem dúvidas, muito bonito. Mas isso não me impressionava. Não mais.

Até nos beijaríamos algumas vezes, ligeiramente bêbados de cerveja ou vinho. “Ao som de Will you still love me tomorrow eu não consigo resistir”, ele diria. Beijos com um sentimento diferente. Amor, sim. Mas não um amor vulgar, efêmero... não seria paixão. Era amor mesmo. Amor, daqueles que sentimos pelos amigos. Daqueles que fazem com que um beijo não signifique muita coisa. Quer dizer, não o bastante para atrapalhar a amizade.

Ele me contaria, sem pudor, que traía seu último namorado. Eu, por minha vez, me diria cada vez mais apaixonadinho por aquele amigo da faculdade. Aquele, hétero, que tem uma namorada super gente boa. “Cretino”, ele diria – “Como você ainda tem coragem de encarar a namorada do cara por quem você é apaixonado?”.

Alguns palavrões depois, mais umas cervejas, ele me abraçaria e cantaríamos alguma música juntos. Aos gritos. Sua mãe, da porta do quarto, diria, brava, que os vizinhos logo reclamariam daquela gritaria.

Nada de boates nem bares: nossa diversão seria estar em casa – na minha ou na dele – bêbados ou não, com música ou não. Às vezes só conversando. Ele fumando, eu reclamando que a fumaça me deixava com falta de ar. Sua companhia era agradabilíssima pra mim. Minha companhia também era agradável pra ele.

Lembraria sempre das vezes que me vira no supermercado próximo a nossa casa. “Você sempre desviava o olhar, parecia muito metido”. Eu me explicaria, dizendo ser timidez. Agora, depois de algum tempo, minha timidez já era bem  disfarçada.

Três da manhã. “Te levo lá em baixo” e me acompanharia. Abraçados esperando o elevador chegar. Abraçados dentro do elevador. Na portaria do prédio, sempre acharíamos graça quando o portão eletrônico fizesse um barulho alto e devido à demora da nossa despedida, a sirene do alarme disparasse.

“Vai pra dentro, seu doido”, eu diria, daria-lhe as costas e seguia os dois quarteirões até minha casa. Enquanto vasculhava os bolsos à procura das chaves de casa, receberia um SMS no celular. “Até amanhã. Bjs”.

Teríamos sido grandes amigos, tenho certeza.

Mas ele pulou da janela do seu quarto ontem. Cinco andares até o jardim do prédio. “Era um rapaz muito sozinho... Não tinha nenhum amigo”, foi o que ouvi dizer.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Você já era!

Desde o episódio da boate, quando o Rafael me viu beijando outro cara, ele se mostrou bastante insistente e sempre me convida para sair. Eu sempre recusava, não por querer me fazer de difícil, mas por não saber o quão “forte” eu estava para encarar essa situação.
Inventei várias desculpas, dei alguns bolos, não respondi algumas mensagens e percebi – cada vez que acontecia alguma dessas coisas – que não estava mais tão abalado. Era hora de aceitar o convite. Disse que a gente poderia tomar uma cerveja juntos, mas que, naquele dia, eu não estava muito afim de boate, como ele propôs.
O encontrei perto da casa dele. Logo que ele se aproximou, percebi que meu coração nem batia acelerado.
Ele logo quis saber sobre meu “namoradinho”, o menino que estava comigo na boate. Pensei em dizer que ele ainda não era meu namorado, e mentir que estávamos nos vendo e nos curtindo. Não sei por que, mas a idéia passou tão rápido quanto surgiu. Acabei dizendo a verdade: eu nem sabia o nome do menino.
Já sentados num bar, ele começou a falar sobre o seu namoro. Disse que terminaram e que não ficou tudo bem entre eles. Saíram da relação com raiva (mais da parte do namorado do que dele!) e que, por enquanto, ele não queria namorar outra vez. Mas, para compensar, estava “curtindo” com vários outros caras por aí.
Disse que quando terminou, ele ficou mal e chorou por três dias. Me segurei pra não dar uma gargalhada e gritar bem alto: “bem feito”.
O Rafael disse que o problema é que eles foram muito rápidos. Pouco tempo de namoro e eles já estavam morando juntos. Eu perguntei algumas coisas sobre isso e, nessa hora, eu percebi que
Você era um colírio pros meus olhos.
Pedi duas gotas. Só duas gotas!
E devolvi em lágrimas.

Você era a cara do meu destino
E não passou de um pedaço de mau caminho.
Você tinha tudo pra ser minha fonte de inspiração
E virou a canção das escolhas erradas.
Das escolhas... erradas!

Você era o meu parque de diversões
E acabei levando trabalho pra casa
Você tinha tudo pra ser minha fonte de inspiração
E virou a canção das escolhas erradas
E virou a canção das escolhas erradas
Das escolhas... erradas!

Ele começou a me contar que, no início do namoro, ele não estava muito empolgado com o rapaz. Mas o rapaz, por sua vez, se mostrava super apaixonado.
- (...) Só que eu precisava de alguém pra dividir as contas! Morar sozinho não é fácil, tinha muita despesa. Então eu propus a ele que fosse morar comigo, pra me ajudar nas despesas da casa... – ele disse, antes de acrescentar que seu objetivo não era que eles passassem a viver como em um casamento.
Eu desacreditei que tinha ouvido aquilo.
Por uns segundos, jurei ter sentido meu estômago se embrulhar. Uma sensação de desprezo, nojo ou sei lá o quê! Até onde ia o egoísmo do Rafael? Não me agüentei e o interrompi.
- Me faz um favor? NUNCA mais faça isso com uma pessoa! Comigo você fazia mais ou menos assim. – eu disse.
E contei a ele, mesmo sem querer, que ele foi, até então, a pessoa de quem eu mais tinha gostado. Mesmo que a gente não tivesse tido nada sério, era ele minha referência. E eu nunca escondi isso dele.
Continuei:
- Quando uma pessoa está apaixonada por você, tudo fica mais grave. A gente não percebe as coisas. Um beijo pode ser só um beijo para você. Pra mim, era uma esperança. As transas casuais que a gente teve, os convites para o cinema, as piadas, as brincadeirinhas, tudo isso era uma esperança! Me imagino no lugar do seu namorado, e percebo o quanto ele não teria ficado feliz em receber um convite para morar junto com você. A única coisa que ele não pensou, é que você queria a companhia dele apenas para dividir os gastos...
Depois que disse isso, me senti meio neurótico por ter realmente tido esperança em cada atitude das que eu citei. Disse a ele que conversasse com os possíveis namorados que ele pudesse ter e que não tivesse mais atitudes como aquela.
- Hoje – continuei – percebo que se eu tivesse entendido a sua intenção comigo desde o início, poderíamos ter nos divertido muito. Desde que eu aceitasse as coisas como você queria.
- Mas eu nunca te disse que queria namorar com você – ele argumentou.
- Mas também nunca disse que não queria! De alguma forma, isso mantinha minha esperança viva – concluí.
Vi que não valia a pena continuar insistindo nessa conversa. Ele seria a mesma pessoa egoísta que sempre foi e que eu nunca percebi. Completamente confiante em si e que continua manipulando a mente das pessoas “psicologicamente instáveis”, como ele dissera. Grande merda ser um psicólogo assim. Que se acha tão “foda” no que faz, mas que não percebe o quão desprezível ele é como pessoa.
Ele calou por um tempo.
Espero que tenha, pelo menos, refletido sobre o que conversamos. Eu fiquei indignado. Fiquei com pena de seu ex-namorado (que até umas semanas antes, eu via como um grande “rival”).
Os assuntos voltaram a ser assuntos menos importantes. Música, cinema, clima, Carnaval, faculdade... Tudo bem superficial. Mas eu estava bem puto!
- Já que agora ficou tudo esclarecido, e que eu sei que você só quer curtir comigo, a gente bem que podia ir pra um motel fazer um sexo bem selvagem, hein? – eu disse.
Ele olhou surpreso. Eu sorri e acrescentei:
- Tô indo embora! Garçom, traz a conta, por favor?!
Quando me despedi dele, não tive reação nenhuma. Não saí de lá triste, nem feliz. Acho que não tive reação.
Desde lá eu não tenho muita vontade de reencontrá-lo, nem de perder mais do meu tempo com ele. Mas, confesso, novamente, eu me senti por cima. Me fez bem que ele veja que eu não sou mais o mesmo de antes. Você já era, Rafa!
Até a próxima!

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Sobre as voltas que a vida dá...

Há tempos venho precisando sair. Dar umas voltas. Tomar uns goles. Dançar. Conhecer pessoas novas. Dar vários beijos na boca. Ter uma noite intensa de sexo...

Por isso tudo, eu resolvi deixar a preguiça de lado e aceitar o convite de dois amigos meus. A boate de sempre. A noite em BH era quente. A boate lotada e um calor de deixar as pessoas completamente molhadas de tanto suor. Música. Gente bonita. E ele. Com sua boca. A mais bonita da boate inteira.

Ele usava uma máscara de carnaval (Sim. Era um baile de máscaras!) e a primeira coisa que pude reparar foi na sua boca. O rapaz era bonito e eu não me achava merecedor de tudo aquilo.

Meu tom de voz se elevou um pouco demais quando eu gritei pra um dos amigos que me acompanhavam: “Não consigo parar de olhar”.

Ele também estava com uns amigos e eu o vi conversando com uma menina que, de repente, me olhou. Sorri sem graça, com se tivesse sido pego em flagrante. Envergonhado, desviei o olhar e me concentrei na dança. Garrafa de cerveja em mãos.

Faltando uns dois goles pra terminar a cerveja, tentava criar coragem pra me aproximar dele e dizer que, “não sei se é uma cantada, mas sua boca é linda”. Enquanto estava meio perdido em meus pensamentos, meus amigos foram ao bar e eu fiquei sozinho.

Ainda faltava um gole de cerveja e meu coração começava a disparar.

Agora meu coração disparava muito.

O rapaz, com sua máscara, sua boca e tudo o mais, se aproximava de mim. Confuso com as luzes piscando, tive uma breve dúvida se ele realmente se vinha na minha direção, mas, quando vi, ele já estava com o rosto bem perto do meu. Meu coração parou de bater por uns três segundos. Beijo.

Os beijos demoraram um pouco até que ele cochichou ao meu ouvido: “Daqui a pouco eu volto”, colocou os dedos sobre a boca e me mandou um beijo.

Fiquei em dúvidas se “daqui a pouco eu volto” haveria ou não de ser um fora. Mas fiquei tranqüilo. Ele continuava próximo a mim, não fora dar nenhum outro beijo boate afora. Eu o tinha sob meu campo de visão, mas fiquei totalmente sem saber o que fazer. Só sabia que não podia me comportar como um namorado.

Alguns minutos depois, resolvi me aproximar, contei da minha tentativa frustrada de cantá-lo e, por fim, elogiei sua boca. Ela realmente me impressionara. Mais beijos.

- “Preciso de água” – disse ele, por fim – “Já volto”.

Eu já tinha ganhado a noite. Mesmo se aquilo fosse um fora, eu já preparava o próximo flerte. Até que meu coração parou de bater por mais três segundos.

Um abraço.

Demorou um tempo pra ficha cair, o coração voltar a bater, o oxigênio chegar até o cérebro e eu ver que a pessoa que me abraçava era o Rafael. Acho que fiz cara de bobo enquanto ele sorria, me abraçava e dizia estar com saudades.

A primeira coisa que fiz, foi colocar na minha cabeça que eu não podia deixar que o Rafael estragasse minha noite. “Ele não pode ter esse poder de me balançar pro resto da vida! Seja firme, Théo! Não liga pra ele. Se concentra na boca. Rafael já era...” – pensava enquanto minhas pernas tremiam, entregando minha ansiedade.

Rafael saiu de perto e eu continuei dançando. De repente ele chegava, me dava umas ‘encoxadas’ e saía de novo. Não dei bola. Não mesmo.

Estava dançando com meu amigo quando ele apareceu, passou a mão pela minha cintura, se aproximou do meu ouvido e perguntou se meu ‘namoradinho’ não ficaria com ciúmes dele. Fui seco ao dizer que ele não era meu namoradinho, era meu amigo. Dei as costas e voltei a dançar, mas a vontade era de gritar: “e o seu “namoradinho”? Não vai sentir ciúme de mim? Onde ele está enquanto você fica aqui, se esfregando comigo?”. Mas não compensava.

Não tava mesmo disposto a dar chance de o Rafael estragar minha noite. Tanto que fiz que não vi quando ele deu o maior beijão numa menina.

Até a música estava ao meu favor. Não posso negar que gostei e fiz coro quando a Gaiola das Popozudas cantou: agora eu sou piranha e ninguém vai me segurar... Me empolguei. Música de baixo nível cai bem, em algumas ocasiões.

Puxei o garoto pela mão e começamos a dançar. Ele à frente. Eu por trás, enquanto passava a mão pela sua barriga, sua bunda... De repente escuto “Théo” e uma cara de espanto do meu amigo. Vi o Rafael se aproximar. Passar por mim e se virar para me olhar enquanto seguia seu caminho até o bar. No meu íntimo mais íntimo, eu sorri.

Feliz, virei o cara e o coloquei contra a parede. Vim por cima e encaixei nossas coxas. Os beijos estavam mais quentes. As mãos, mais ousadas. Enquanto minha língua procurava sua orelha, a mão descia por dentro da calça procurando outra coisa. Não era só a boca que era boa. Não mesmo... [Gaiola das Popozudas agora vai fala pra tu: se elas brincam com a xereca, eu te dou um chá de...] Chá de nada. Ele saiu de perto e foi ao bar buscar outra água.

Continuei dançando. E o Rafael voltou a se aproximar.

- “Eu preciso de um homem! Por que essa garota fica andando atrás de mim?” – ele perguntou. A menina que ele havia beijado – uma amiga, segundo ele - estava ao seu lado, com uma cara de velório.

- “Eu não sirvo mesmo pra você, não é? Então, boa sorte na sua busca” – respondi com um sorriso o mais irônico possível.

Logo ele saiu de perto. E eu já estava querendo ir embora. Eu vi meu “pegada” passando por mim, mas não o vira mais. Seus amigos também não estavam mais por lá. O mais certo é que ele tinha ido embora. E eu nem ao menos sabia o nome da pessoa que tinha feito minha noite ser tão legal.

Subindo as escadas, dei mais uma procurada, mas não o encontrei. Queria me despedir. Dar um beijo... Agradecê-lo pela noite. Havia sido realmente legal. Chegando a porta, vejo Rafael sentado. Me aproximei pra me despedir e ele segurou minhas mãos, fez uma expressão (que quase me convenceu ser) de tristeza e pediu pra eu não ir.

- “Cadê sua amiga?” – eu perguntei

- “Lá embaixo, dançando...” – respondeu.

Eu disse que precisava mesmo ir embora, pois já estava cansado. Meus pés doíam, embora me sentisse leve. Dei um abraço nele e já ia saindo de perto quando ele me puxa pelas mãos.

- “Me dá seu telefone... Eu perdi” – falou.

Passei o número. Por um segundo, pensei em dar-lhe um beijo na boca e sair, sem nem olhar pra trás. A idéia logo passou, eu me abaixei, o abracei, dei-lhe um beijo no rosto.

- “Bom te ver! Depois a gente se fala...” – disse, dando uma piscadinha.

Não agi assim por mal. Não tinha vontade de me vingar. Agi pensando no meu melhor. Não posso ficar pra sempre à mercê do Rafael e suas mudanças constantes de humor. Enquanto deixava a boate pra trás, na companhia dos meus amigos, aproveitei o silêncio da madrugada pra pensar pensei se a vingança teria um gostinho mais ou menos parecido com esse...

Eu queria andar na linha, tu não me deu valor. A música não saía da cabeça. Definitivamente, música de baixo nível cai como uma luva, em algumas ocasiões.

Até a próxima.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Sobre pessoas - Final

Querido Lou,

Nós aprendemos tanto...

Eu sei que não seremos capazes de nos falar por um tempo. Eu entendo isso, e espero que você também. A distância foi a coisa mais difícil, mas nós aproveitamos muito bem o quanto poderíamos ter aproveitado, já que os dois estavam em um momento bastante tumultuado em nossas vidas. Eu sempre vou gostar quando você estiver por perto, e sempre vou querer saber sobre você, sobre sua carreira e sobre o que tem feito...

Acho que, naquela época, eu devia ter uns 19 anos. Não tinha amigos e, portanto nunca saía de casa. Perdia, assim, qualquer oportunidade de conhecer uma pessoa. O jeito era tentar encontrar alguém pelos chats da vida. O Thiago foi mais um que conheci pela internet, mas não me lembro bem como...

Em uma das primeiras conversas, Thiago demonstrou uma preocupação em mantermos certa “privacidade”. Ele quis saber se minha família sabia sobre mim, se eu freqüentava “o meio”, se eu era “assumido” e tudo mais.

Não. Naquela época, como já disse antes, eu ainda não conhecia nenhum “meio” e morria de medo de que alguém descobrisse que gostava de meninos.

Conversamos por certo tempo e logo estávamos falando sobre nossa busca por namorados. Sobre as decepções com as pessoas que conhecíamos pela internet e logo surgiu a idéia de nos encontrarmos.

Não quis fazer pressão e, após muitos encontros marcados – e demarcados – chegou o dia em que nos encontraríamos.

Pouco antes do horário combinado, recebi uma mensagem dele no celular, dizendo que não poderia me ver naquele dia. Se me lembro bem, era aniversário de uma prima, ou coisa assim. Fiquei muito decepcionado, mas banquei o conformado e respondi a mensagem dizendo que eu entendia e que não haveria problemas. E que marcaríamos outro dia, para outro encontro.

Eu queria conhecer o Thiago. Muito. Mas não estava apaixonado por ele. Não ainda.

Pouco depois, recebi outra mensagem, dizendo que iria me encontrar. Não entendi nada, mas fiquei feliz. Finalmente, a gente iria se ver. Sair do virtual...

Escolhemos uma praça na região central de Belo Horizonte. Romântico, não? E nosso encontro foi assim: rodeados por árvores, crianças com seus pais, cachorros passeando com seus donos, casais velhinhos sentados comendo pipoca, enquanto casais mais jovens se pegavam em algum cantinho mais escuro... E nenhum indício de que Thiago e eu renderíamos alguma coisa.

O Thiago era muito bonitinho... Pouco mais velho que eu. Acho que deveria ter uns 22 ou 23 anos. Baixinho, moreno, um rosto bonito e uma boca, digamos, bastante “simpática”. Trabalhava como cobrador e disse que queria tentar vestibular, mas que tinha medo de não conseguir conciliar estudos e trabalho.

Eu me esforçava pra não demonstrar todo o meu interesse e, quando vi que não iria sair dos papos de amigos, me esforcei pra não deixar a minha frustração, decepção, ou sei lá o quê, ficasse estampada em meu rosto.

Acontece que, aos 19 anos, minha auto estima estava em sua fase boa. Em expansão... E o não interesse do Thiago por mim era um bom golpe em minha (tão rara) crise de autoconfiança.

Na hora de despedir ele me disse que depois conversaríamos sobre “nós”. Que havia gostado de me conhecer pessoalmente, que eu era uma pessoa legal e tudo mais que – posteriormente – eu entenderia que significa um “não rola, cara”.

No caminho até minha casa, me senti um lixo (a primeira vez, até então) e, se me lembro bem, cheguei até a derramar algumas lágrimas.

No dia seguinte, aproveitei a oportunidade para colocar, no MSN, um recado. “Eu sei que eu não sou quem você sempre sonhou”, como cantava Marcelo Camelo na clássica Anna Julia.

E ele recebeu o recado. Logo rolou um papo:

“ – Então, essa frase é pra mim?” – ele perguntou.

Com minha afirmativa, ele foi direto ao ponto. Falou que não era questão de eu ser ou não o que ele sempre sonhou. Disse que estava confuso. Havia um colega de trabalho que vinha demonstrando algum tipo de interesse por ele. Thiago me contou que teve medo de corresponder às investidas do colega e, quando decidiu tentar alguma coisa, o rapaz o disse que ele havia confundido as coisas e que a relação dos dois não passaria de amizade.

Me disse que chegou a pensar em se demitir, tamanha vergonha pelo que aconteceu. Disse que ainda tinha grande interesse pelo colega e que nós dois não daríamos certo. Que não queria me decepcionar, que me queria como amigo e tudo mais que – hoje eu sei – significam um “não rola, cara”.

Mantivemos contato por uns tempos. Falamos sobre a vida, os estudos, os namorados (no meu caso, “a falta de”), família...

Eu me lembro que eu o avisava sobre inscrições para vestibulares, e o incentivava a estudar. Agindo como amigos fariam...

Até que um dia ele reagiu de forma estranha comigo no MSN. Depois de algum tempo sem nenhuma conversa virtual, eu o vi online e decidi puxar assunto.

“ – E aí, Thiago, tá sumido...”

“ – Não é o Thiago. É a irmã dele. Estou usando o computador e o MSN conectou sozinho...”

“ – Certo. Diz a ele então, que mandei um abraço”

Assim foi nossa última conversa. Se era ou não “a irmã dele” eu não sei. Se ele recebeu, ou não, o abraço que o mandei, também não sei. Não sei se ele resolveu a situação com o colega de trabalho, nem se ele se decidiu sobre a faculdade.

Sei que, por algum tempo, eu olhava alguns ônibus na esperança de vê-lo. Sei também que, infelizmente, não era mesmo o que ele sempre sonhou. Ou, talvez, apenas não fosse o momento certo. Não gostei de como a amizade terminou. Gostaria de ter podido dizer a ele que “eu sempre vou gostar quando você estiver por perto, e sempre vou querer saber sobre você, sobre sua carreira e sobre o que tem feito...”.

Fim.