quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Cara de pau

Sábado à noite. Estava em casa, fazendo um lanche.

- “Festival de Performances? Vai ser um show de Drag Queens?” – foi essa a primeira pergunta que me fiz ao receber o telefonema do Júlio – aquele meu ex-colega de trabalho.

Mas não era. Não sei bem o que era. Na verdade, as tais performances me pareceram músicas do Arnaldo Antunes: acho legal, mas não entendo merda nenhuma!

- “O melhor vai ser depois das performances! Vai rolar um barzinho ali ao lado” – disse o Júlio, assim que reclamei pela primeira vez.

Ele estava com um monte de amigos – dos quais eu só conhecia um – e fomos os primeiros a chegar no bar.

Meia luz. Decoração rústica. O bar foi feito no improviso, aproveitando as “ruínas” de uma casa ao lado do teatro onde foram feitas as performances. Sentei-me em um dos degraus da escada e conversava com Júlio entre um e outro copo de cerveja. Ele me falou sobre seus casos e eu falei sobre a minha “falta de casos”.

Minha vez de comprar a cerveja. Vi que o rapaz do caixa era bem bonitinho. Um sorrisinho discreto de minha parte. Uma piada – como sempre – e o risco de começar a parecer um idiota:

- “Estudante paga meia cerveja?”

Resposta negativa. O jeito, então, era pagar os R$4 na latinha. Depois dessa fui ao banheiro.

O banheiro seguia a mesma decoração “rústica” de toda a festa. Entre cavaletes e fitas zebradas, o banheiro era todo forrado com um papel branco e algumas canetas penduradas, para que pudesse haver uma “interação” entre os organizadores e os freqüentadores do bar.

Entre algumas frases que pareciam, literalmente, filosofia de banheiro e alguns “Ronaldo”, eu escrevi que tinha gostado daquilo e que queria voltar outras vezes. Um pouco alto, escrevi que só tava faltando que os homens bonitos se aproximassem...

Depois de mais umas cervejas, voltei ao banheiro e escrevi: “Meldelz. O cara do caixa é muito gato! Ele tem MSN? Orkut? Telefone? Alguma coisa??”. A que ponto chega a minha falta de vergonha, né?

Não satisfeito, fui até o caixa comprar outra cerveja.

- “Tem um recado pra você lá no banheiro... Acabei de ler” – eu disse pro rapaz.

- “Mesmo?” – disse ele surpreso.

- “Mesmo! O cara do caixa, com a mão quebrada, só pode ser você... Valeu” – e saí.

Na próxima ida ao banheiro, li uma resposta: “Ainda estou no caixa. Procure-me”. Acho que nunca demorei tanto pra fazer um xixi. Pensava se ia ou não... Saí de lá e contei a história pro Júlio. Voltei pro banheiro e completei o recado: “Dá pra comprar uma dose de coragem no caixa?”.

Júlio saiu me puxando pra comprarmos outra cerveja. Nos debruçamos no balcão e ele conversou alguma coisa com o rapaz. Eu ficava olhando, mas não conseguia entender o que eles diziam. Quando perguntei, ele disse que não era nada.

Fomos dançar. Júlio me abraçava, dizendo que gostava muito de mim. Me deu alguns selinhos, e logo se agarrou com um cara lá na pista. Como não conhecia nenhum dos amigos dele, fiquei lá, dançando sozinho... E olhando pro caixa.

Hora de ir embora. A carona me esperando. Passei pelo caixa e dei um “tchau”, de longe. O rapaz então fez um sinal com a mão, me chamando pra ir até lá. Fui... tremendo...

- “Vim só te procurar...” – “mesmo que não pareça, fui eu quem deixou o recadinho no banheiro. Desculpa por ter te passado a cantada mais idiota que você já recebeu” – eu disse.

- “Até que foi bonitinha!” – disse ele sorrindo.

- “E então... vai me dar seu telefone? Seu Orkut?”

Anotei seu MSN e tive que ir.

Me despedi dele com um beijo no rosto. Segurando suas mãos, fui me afastando e dizendo que “então qualquer hora a gente conversa”.

Saí do bar meio flutuando... Encontrei com o Júlio dizendo que o cara “beija bem demaaaais” e fui embora.

Duas semanas até que ele aparecesse no MSN... Nossa conversa até que flui. Ele parece ser um cara legal. Parece maduro. Meu namorado perfeito, mas, como sempre, mora longe.

Estuda em Ouro Preto mas, segundo ele, está sempre em BH. Ficou combinado de que quando ele vier, vamos nos ver. Agora é ver o que rola e se minha cara de pau vai voltar a funcionar.

Torça por mim, amigo!

Até a próxima.

17 comentários:

Anônimo disse...

Olá meu caro, gostei muito da sua história, de verdade, um belo romance moderno, muito bonitinho, Torço por vcs!

J. M. disse...

É, cada dia que passa tenho mais certeza de que devemos mesmo deixar as coisas acontecerem, e principalmente, nos permitir: sair dessa vidinha de MSN, e internet, orkut entre outros e de vez em quando frequentar o mundo real, e o doce sabor de paquerar, flertar, curtir uma troca de olhares. Ai, como eu gosto disso e como eu sinto falta disso também! Torço por você, amigo! Saudades! Abração.

Caco disse...

Às vezes, ser cara de pau é preciso.

Estampado disse...

Você tem um jeito que me prende nas sua histórias.
ADORO!!!!

FOXX disse...

eeeeeeeeeeeeeeeita
gostei de ver!!!

agora, quem é júlio?

Conto de meninas disse...

Ah adorei sua historia e teu blog!
Vou te add!
beijos
Lara

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

taí ... gostei do jeito do rapaz do caixa ... eu daria uma chance a ele ... enfim ...

bjux

;-)

dand disse...

Olá Theoo, obrigado pela visita em meu blog viu!!! Fiquei feliz..

Que interessante a sua história hein menino... Você deve ter ficado numa aflição esperando a reação do rapaz do caixa ao ver suas escritas no banheiro..., principalmente depois de umas cervejinhas.hahahaha.

Bom, sou que nem você, discreto, tímido, com um sorrisinho bem quase não rindo qdo me interesso por alguem..As pessoas que avançam em mim e disso que eu não gosto.
Sou daqueles que primeiro "fico" com os olhos...adooro olhares...Depois a boca e mãos entram em ação...Rs.

Enfim, bela carta...adorei..

Um grande abraçooo..
Dand.

Identidades Fragmentadas disse...

Muito interessante a forma que usa para narrar tudo isso que foi para a postagem. Índices textuais maravilhosos que transferem tudo para realidade. Dessa narrativa não sabia! Muito boa!
Tight Hugs, mate!

Anônimo disse...

eu realmente espero q seu amigo nao se chame julio.... se vc nao é capaz de dar o seu nome aqui..nao acho nada justo colocar o nome dos outros...

Identidades Fragmentadas disse...

Théo, aqui vai uma contra-palavra.
A possibilidade de nomeação real não impede que possas contar algo ocorrido. Penso que aquele que jaz no anonimato deva pensar que o Júlio pode ser uma pessoa, sim, de caráter e nome verdadeiros, embora a internet e sua extensão, o blog, possam permitir o encontros de diferentes "eu". sejam eles verdadeiros, com RG, com endereço verdadeiros ou não.

Continue a postar. Afinal, aquilo que falas ou escreves não pertence a você. Tudo um dia já foi dito, apenas reeditaamos tais palavras. Bakhtin

Edilson Cravo disse...

Parabéns por seu blog e acima de tudo pela brilhante maneira de conduzir as postagens. Acho que deveria postar mais, mas entendo que sua vida seja corrida.Quando possível venha me fazer uma visita ok? www.lua2gatos.blogspot.com
obs: já lhe adicionei como meus favoritos..rs...abraçoooooo e ótima semana.

ana. disse...

kkkkkkkkkkkkkkkk

Rindo aqui ainda do que escreveu sobre as músicas do Arnaldo Antunes.

Ainda está melhor que eu, que gosto apenas da voz dele.

Bjs.

dand disse...

Ontem o Arnaldo Antunes foi no Jô e me lembrei de vc huahuahua..
Bom, quando ao meu primeiro e singelo espero ter podido ajudar em algo hehe..Tenha medo não menino...hehe

abraços.

Fumaça Subindo disse...

gostei.

Observador disse...

Muito legal seu blog. Parabéns!
Sei q não é o assunto do post, mas...
Olha, tem uma notícia sobre bolsas de estudos p GLBT nesse endereço: http://estudar-nos-eua.blogspot.com/2009/12/bolsas-para-estudantes-lgbt.html
Acho q seria legal divulgar!!
Bjs

Contra Natura disse...

"Tentei convencê-lo de que, pra mim, isso é bem claro. Eu sou gay! Mas precisa sair espalhando??

Oi, muito prazer. Eu sou o Théo. Tenho 24 anos. Gosto de doce de leite. Minha cor favorita é verde e sou gay."

Concordo plenamente.